Tentações no Deserto
Mestre Jesus, o Cristo é, então, levado ao deserto para ser tentado pelo diabo (Mt 4:1).
O diabo simboliza o lado sombra do homem, os resquícios de orgulho, egoísmo e ambição pelo poder. O deserto simboliza o período de aridez espiritual que se segue a toda experiência de exaltação espiritual, como é testemunhado por todos os místicos. Durante esse estado interior de aridez, simbolizado pelos quarenta dias de jejum de Jesus, a personalidade é tentada a usar seus novos poderes para saciar sua fome, para obter posses e prestígio.
O mesmo Jesus que mais tarde alimentaria com seus poderes teúrgicos cinco mil homens (Lc 9:14-17), recusa-se a usar seus poderes para transformar pedra em pão para satisfazer suas necessidades pessoais.
Ao contrário de Jesus, que responde com sabedoria e determinação a todas as tentações do diabo interior, muitos iniciados não resistem às tentações do mundo, especialmente ao orgulho e à ambição.
Enquanto esses tentadores trevosos não forem definitivamente derrotados, o iniciado continuará marcando passo nessa etapa da senda. Por isso, é dito que o período entre a segunda e a terceira iniciação tende a ser um dos mais demorados a ser vencido pela maior parte dos iniciados.
Depois de receber seus novos poderes, o iniciado inicia sua missão no mundo, o que é simbolizado pela passagem em que:
"Jesus percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo" (Mt 4:23).
A rica tradição esotérica cristã sempre esteve voltada para a transformação do homem velho num homem novo. O objetivo dessa tradição não é formar meros devotos, ou cristãos tradicionais, mas sim verdadeiros Cristos, nascidos na gruta do coração, sendo batizados, transfigurados, mortos e sepultados, ressurgindo dos mortos e, finalmente, ascendendo em glória aos céus, para permanecerem à direita do Pai.
Essa é a via mística, trilhada por tantos milhares de buscadores sinceros ao longo dos séculos. Nela todos os ensinamentos e passagens da vida do Cristo retratam a vida de sua própria alma.
Se for bem sucedido nesse propósito, o místico perceberá que as palavras do Cristo eram dirigidas a ele:
"Eu vos digo, verdadeiramente, que alguns que aqui estão presentes não provarão a morte até que veja o Reino dos Céus" (Lc 9:27).
Será excelsa a glória daqueles que alcançarem a perfeição, conforme se pode aquilatar nas palavras do Cristo registradas no Livro do Apocalipse:
"Ao vencedor concederei sentar-se comigo no meu trono, assim como eu também venci e estou sentado com meu Pai em seu trono" (Ap 3:21).