Eu tive que aceitar

Eu tive que aceitar que eu viera ao mundo para fazer algo por ele, para tentar dar-lhe o melhor de mim, deixar rastros positivos da minha passagem e, em dado momento, partir.
Eu tive que aceitar que meus pais não durariam para sempre e que meus filhos, pouco a pouco, escolheriam seus caminhos e prosseguiriam sua caminhada sem mim.
Eu tive que aceitar que eles não eram meus como eu supunha, e que a liberdade de ir e vir era um direito deles também.
Eu tive que aceitar que todos os meus bens me foram confiados por empréstimo, que não me pertenciam e que eram tão fugazes como fugaz era a minha própria existência na Terra.
Eu tive que aceitar que eu iria e que os bens ficariam para uso de outras pessoas quando eu já não estivesse por aqui.
Eu tive que aceitar que varrer minha calçada todos os dias não me dava nenhuma garantia de que ela era propriedade minha, e que varrê-la com tanta constância era apenas um fútil alimento que eu dava à minha ilusão de posse.
Eu tive que aceitar que o que eu chamava de “minha casa” era só um teto temporário que dia mais, dia menos, seria o abrigo terreno de uma outra família.
Eu tive que aceitar que o meu apego às coisas só apressaria ainda mais a minha despedida e a minha partida.
Eu tive que aceitar que meus animais de estimação, minhas plantas, a árvore que eu plantara, minhas flores e minhas aves eram mortais. Eles não me pertenciam!
Foi difícil, mas eu tive que aceitar.

Eu tive que aceitar as minhas fragilidades, os meus limites, a minha condição de ser mortal, de ser atingível, de ser perecível.
Eu tive que aceitar para não perecer!

Eu tive que aceitar que a Vida sempre continuaria com
ou sem mim, e que o mundo em pouco tempo me esqueceria.

Eu me rendi e aceitei que eu tinha que aceitar.
Aceitei para deixar de sofrer, para lançar fora o meu orgulho, a minha prepotência, e para voltar à simplicidade da Natureza, que trata a todos da mesma maneira e sem favoritismos.

Humildemente agora lhe confesso que foi preciso
eu fazer cessar uma guerra dentro de mim.

Eu tive que me desarmar e abrir meus braços para
receber e aceitar a minha tão sonhada Paz


Silvia Schmidt

Fama Fraternitatis - 1614





"Nascidos de Deus: Ex Deo nascimur;
Mortos em Jesus: in Jesu morimur;
Renascidos pelo Espírito Santo: per Spiritum Sanctum reviviscimus"
Fama Fraternitatis - 1614

 
Quando nós, buscadores espirituais, morremos segundo a natureza, em um último suspiro, na solidão do eu que se retira, a alma entra em contato com o Espírito e renasce em Cristo.

Aí está o segredo!



Conhecemos o símbolo de Aquário: o homem que carrega um cântaro de água que os discípulos encontram na porta, segundo as indicações de Cristo.

"Segui o Aguadeiro", diz ele, "até a casa em que ele entrar."

Segui o caminho traçado pela Água Viva no mundo que corre para a perdição e encontrareis preparada a ceia do Senhor.

Todos os que seguem o Aguadeiro serão chamados para cumprir a "Via Dolorosa".

E aqueles que reconhecerem nele o guia, o fermento que os destruirá para o bem, haverão de tornar-se os discípulos do Senhor.

Se somos seres espirituais, unimos coração e cabeça.

A Água da Vida escorre de nosso coração para o fogo sagrado de nosso pensamento, e então já somos novos homens, que revelam as descobertas realmente novas, descobertas extraordinárias e maravilhosos segredos.

Se somos homens comuns, estas duas correntes nos arrastam para a decadência e para descobertas que, consideradas negativamente, estilhaçam e destroem.

É este tipo de reação negativa que nasce nas máquinas de guerra que derramam sobre a humanidade seu fogo devorador.

Sintonizados com a tríplice possibilidade da Unidade divina, os seres humanos estão sendo orientados a ultrapassar os limites de sua consciência e à expansão de seus horizontes espirituais.

Este é um momento particularmente indicado para a expansão do misticismo, fato que já está manifestando-se com interesse cada vez maior pelos segredos da Idade Média e das populações mais próximas da natureza.

Aquário traz algo completamente diferente, seja para o bem, seja para o mal.

É um tríplice fermento para nosso cosmo e trabalha sobre a humanidade em geral e a impulsiona para seu destino.

O resultado final demonstrará se a matéria será capaz de suportar a ação deste fermento.

O espírito banal que deseja exploraro além por curiosidade doentia e primitiva pode manifestar-se e falar de maneira muito interessante sobre coisas que ele absolutamente não compreende!

Ele se sente tomado pela influência de Aquário e acha que se tornou um homem espiritualizado. Que ilusão!

Querendo ou não, ele é empurrado para o caminho das experiências interiores.

Será que nós seríamos capazes de nos adaptar ao altruísmo do qual, sem passar pela "morte em Jesus", "in Jesu morimur", e para ressuscitar, em seguida, no Espírito Santo.

E, para ele, surge um novo mundo!

O cristianismo da Gnosis é uma força divina: não é um dogma.

É por isso que a Rosacruz atual, imitando seu predecessor, Christian Rosenkreuz, diz: "Jesu mihi omnia", Jesus é tudo para mim!

Todos os que pensam que podem sair-se bem sem Cristo como força e verdadeiro  salvador, e que portanto não se anulam nele, serão estilhaçados por Aquário e se perderão no declínio do materialismo natural.

É compreensível que o homem natural, morrendo de medo e tremendo, procure escapar à força revolucionária e radical de Cristo.

Somente os heróis e heroínas que possuem coragem suficiente e compreensão para anular sua natureza poderão viver o verdadeiro cristianismo.

Então o cristianismo mostrará seu verdadeiro rosto.

Seu véu exterior será levantado e veremos se a Gnosis aí está presente, o Conhecimento de Deus que guia o homem para a verdade da tríplice fórmula mágica:

Ex Deo nascimur, in Jesu morimur, per Spiritus Sanctum reviviscimus.

Nós nascemos de Deus - pela vontade.
Nós morremos em Jesus- pela sabedoria.
Nós renascemos do Espírito Santo- pela ação.


Aí está a tríplice tarefa do cristão gnóstico.

E todo aquele que passa por esta tríplice experiência, renasce e se torna um sábio e diz: Jesus é tudo para mim!"


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