Qual a melhor decisão?


Quantas vezes na vida nos perguntamos: “o que eu devo fazer?”, “qual é a melhor decisão?”

Ainda mais nesta época de pandemia, onde decisões simples como sair de casa ou ir em uma festa de família se tornam relevantes  tudo parece piorar. Já não bastava este mundo moderno, acelerado e competitivo; onde o erro não é esquecido nem perdoado para nos colocar mais pressão?
Mas o que fazer com sobre esta situação? Bem, talvez não haja uma resposta correta, mas vamos pensar mais um pouco e tentar entender melhor esta questão.


 Segundo Jung (no livro “O homem e seus símbolos"), parte da angústia do Homem moderno vem de que antes tínhamos os ritos, os mistérios e a religião para nos ajudar a entender o que está além de nós. Agora só temos o racional e a ciência, que não tem resposta para tudo . Assim, num mundo cada vez mais complexo torna-se difícil para o ser humano tomar decisões quando envolvem tantos fatores que a deixam muito além da nossa capacidade de pensar. Quando além disso nós ressentimos da falta de um suporte religioso ou filosófico, essa dúvida e angústia se tornam bastante palpáveis. Quando nos vemos sozinhos neste mundo complexo parece que tudo se resume ao vaticínio de Milan Kundera:


“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação.
Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro."

Podemos interpretar essa situação de 2 formas: Uma delas é tomar esta citação como uma leitura da inevitável angústia moderna por buscar a decisão correta. O enunciado de um beco sem saída. A outra forma é conectar esta visão de Kundera com o entendimento budista de que toda dor vem do apego. Ora, se não temos apego e se entendemos que na verdade não temos nenhum controle, isso pode trazer um alívio, pois entendemos que não temos também responsabilidade sobre aquilo que não controlamos.

Esta visão se alinha também com algumas visões de certas religiões onde se entende que tudo está nas mãos de Deus. Assim sendo, mais uma vez o ser humano se encontra livre por não ter o controle. Com isso começamos a entender que o verdadeiro sofrimento vem de tentar controlar o incontrolável, de tentar acertar 100% das vezes e assim evitar 100% do sofrimento.

Não é fácil, mas a liberdade está em entender que da mesma forma que não seremos 100% felizes jamais seremos 100% infelizes. Da mesma forma que não vamos errar todas as decisões, temos que saber que também não acertaremos todas. A verdade é que o copo estará sempre pela metade.


Talvez seja melhor buscarmos a sabedoria do provérbio árabe:


Confie em Alah, mas amarre seu camelo!

 

Este provérbio extremamente curto traz em si a essência da solução deste dilema, pois nos mostra que se por um lado não podemos controlar tudo e devemos confiar em Alá para nos proteger, também temos uma parte nossa que deve ser feita para que o todo possa atingir o melhor resultado. Assim, a solução deste paradoxo moderno pode estar no velho carpe diem; devemos aproveitar cada dia, usufruir cada pequena coisa, buscando sempre fazer a nossa parte, mas com a certeza de que em algum momento também vamos errar, mas que esse erro não será necessariamente o fim do mundo e que mesmo nele haverá algo de bom.

A questão é que temos que levar toda a vida de uma maneira mais leve fazendo a nossa parte (pois conhecemos os males da preguiça e da inação), mas ao mesmo tempo não puxando para nós o peso de decidir com conhecimentos que não temos sobre coisas que não estão em nossa alçada. Ajuste as suas velas, mas de nada adianta tentar controlar ou adivinhar qual será o vento de amanhã. 

Para resumir esta ideia em uma palavra temos que recorrer a uma linha filosófica bastante antiga, o Estoicismo. De nada adianta gastar energia se preocupando com coisas que não estão em seu controle. Se choveu, você decide se vai tomar chuva, usar um guarda-chuva ou se nem vai sair de casa. Essa decisão é sua. Mas se vai chover ou não independe da sua vontade.

Não que esse autor consiga fazer tudo o que colocamos aí acima, os que me conhecem bem sabem que também sofro com as dúvidas do mundo moderno, mas pelo menos espero poder crescer neste processo e talvez ajudar meus irmãos também.



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