Os Vedas e a Mecânica Quântica

 Os Vedas e a Mecânica Quântica


Traduzido de The masonic |Philosofical society


Ao investigar o funcionamento do universo, a ciência fixa seus olhos no futuro. Sua mente zumbe com o progresso. A ciência é o acúmulo incremental de conhecimento: uma torre de mil tijolos, onde cada camada é colocada sobre a última. É um método de conhecimento onde se sabe que as verdades podem ser falsificadas, e por isso o conhecimento só é mantido por meio de provas.

Estranhas, então, podem parecer a muitos, as afirmações de que os antigos textos hindus deveriam ter algo a dizer sobre a ciência. Muito menos Mecânica Quântica.

No Ocidente, os laços com a religião que haviam começado a se desgastar com Galileu foram, atualmente, cortados. A religião, alega-se, faz afirmações sem provas. Ele sabe coisas que  não poderia provar. Acreditar é um ato de fé.


No Oriente, as águas são mais turvas.

Nossa história começa com Erwin Schrõdinger, um dos maiores físicos em um século de descobertas espantosas. Além de estar entre as principais mentes por trás da mecânica quântica - e ainda por cima um ganhador do Prêmio Nobel - ele também era um estudioso da sabedoria filosófica oriental. Em particular, Schrõdinger, famoso por seu experimento mental do gato em uma caixa, era fascinado pelo Vedanta e pelos Upanishads.

Schrõdinger também não estava sozinho. Outro ganhador do Prêmio Nobel e fundador da mecânica quântica, Niels Bohr observou: “Eu entro nos Upanishads para fazer perguntas”.

O Vedanta é uma das seis escolas da filosofia hindu e significa "o fim dos Vedas". Uma longa coleção de textos religiosos, os Vedas se originaram na Índia antiga. Composto em sânscrito, esses textos constituem o corpo mais antigo da literatura sânscrita, as escrituras mais antigas do hinduísmo. Os Upanishads são textos-chave dentro da escola, embora os termos sejam frequentemente usados ​​de forma intercambiável. Os textos tratam de meditação, filosofia e conhecimento ontológico (conhecimento sobre a existência e a realidade). É nesses textos que os conceitos de Brahman (realidade última) e Atman (alma ou self) foram estabelecidos, com a conexão entre os dois sendo explorada.

Tão influentes foram os Upanishads, que o filósofo pessimista Schopenhauer os chamou de "a leitura mais lucrativa e elevada que ... é possível no mundo". Na verdade, ajudou a desencadear as obras mais perspicazes de Schrõdinger.

Mas o que Schrõdinger viu?

O universo é dois em um. Dois fenômenos unidos. É uma onda, como as do mar, e também uma partícula, como a areia da praia. Não é um ou outro; é ambos. Esta foi a visão de tirar o fôlego de Schrõdinger.

Para o leigo, essa conexão pode ser estonteante. Como pode ser ambos? No entanto, um século de experimentação confirmou a teoria. Veja a luz, por exemplo. Ela vem empacotado como o fóton: uma partícula.

Atire-os um por um através de uma fenda e você poderá vê-los atingir uma tela. Dispare aos milhares e um padrão se formará, assim como a água batendo na entrada de um porto, ou ondulações de areia em águas rasas. A luz também é uma onda.


Para Schrõdinger, os dois em uma natureza de matéria e realidade refletiam os insights dos Vedas. “O Vedanta ensina que a consciência é singular”, escreveu ele, “todos os acontecimentos são jogados em uma consciência universal, e não há multiplicidade de eus”. O Brahman - o mundo, a consciência e nossas mentes - eram uma e a mesma coisa. Na verdade, os filósofos orientais descreveram a vida humana como ondas, flutuando ao longo da superfície, apenas para se espatifar na costa e retornar mais uma vez ao oceano.

É a forma da onda que viaja, não a onda em si. A imagem não é o material. A pessoa e o universo são tão indivisíveis quanto a partícula e a onda. Escrevendo em O que é vida? Schrõdinger reafirma esse entendimento: “A unidade e a continuidade do Vedanta se refletem na unidade e continuidade da mecânica ondulatória. Isso é inteiramente consistente com o conceito Vedanta de Tudo em Um. ”

Para Schrõdinger, a mecânica quântica e os conceitos védicos de consciência são compatíveis. A mente é algo maior; é a pluralidade de experiências e os estados fisiológicos são uma ilusão de uma única unidade.

Curiosamente, uma teoria recente que propõe uma ligação entre a consciência e a mecânica quântica ganhou terreno. Orch-OR, “redução objetiva orquestrada”, sugere que dentro de nossas células, minúsculos movimentos quânticos constituem o funcionamento das mentes. Proposta pelo matemático Roger Penrose e pelo anestesista Stuart Hameroff, a teoria tem muitos detratores. No entanto, o link para o trabalho e filosofia de Schrodinger é de interesse definitivo.

Se há alguma verdade na conexão quântica, ou se são apenas fantasias de um homem brilhante, permanece desconhecido. Em um mundo cientificista  despojado de mistérios espirituais, só o levantar desta ideia  deveria nos fazer pensar.


असतो मा सद्गमय । तमसो मा ज्योतिर्गमय । मृत्योर्मा अमृतं गमय ।

Do irreal, conduza-me ao Real. Das trevas, conduza-me à luz. Da morte, leve-me à Imortalidade.

The Brihadaranyaka Upanishad [1.3.28]


Autor: MPSWriterJoe

Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães


O maçom e o ego Junguiano

 O Maçom e o ego Junguiano 

Uma reflexão Junguiana 

 
 
 

Fazendo a tradução de um artigo para este blog, contemplei a ideia de fazer um paralelo entre o conceito de ego na psicologia junguiana e a Maçonaria.  Sabemos que Jung foi maçom e que em suas obras, aprofundando o caminho iniciado por Freud, ele explorou a mente humana, valendo-se de aspectos místicos como mitologia, mandalas, religiões antigas e muito mais. É completamente inviável abordar toda a obra de Jung em um pequeno trabalho como esse. Assim, veremos apenas as correlações entre alguns dos mais importantes conceitos junguianos e sua aplicação na Maçonaria. 

Por exemplo, citamos o fato de que os maçons têm como um dos seus grandes objetivos o “vencer o ego, como dizemos em vários momentos de nossas cerimônias. Mas afinal de contas de que ego nós maçons estamos falando quando dizemos que queremos dominá-lo, vencê-lo? Será que estamos falando do ego de Jung, ou falando do ego de Freud?  

Inicialmente, temos que separar esses dois conceitos de ego, pois são completamente diferentes e suscitam interpretações muito diversas tanto em si mesmos, quanto para com os objetivos da Maçonaria. Por uma questão de simplicidade, não vamos tocar na visão do ego de Freud, até porque entendemos ser esta, de fato, a visão mais comum na Maçonaria. Acredito que pode contribuir mais se tentarmos, neste momento, entender o conceito de Jung e buscar relacioná-lo. Pretendo que ao final possamos entender que, apesar da Maçonaria usar o conceito de Freud para o egoo restante dos ensinamentos maçônicos estão mais relacionados aos conceitos de Jung. 

Para começar, vamos apresentar alguns conceitos básicos do que é a mente humana dentro da visão junguiana. Temos que deixar claro que os conceitos serão apresentados aqui de maneira extremamente simplificada, talvez até simplista. Assim como o ser humano, a psicologia Junguiana é ampla e complexa. Aqui abordaremos esses conceitos apenas de forma a podermos relacioná-los a nossa filosofia e prática maçônica. A fim de propiciar uma ampliação de estudo para aqueles que desejarem, o título de cada conceito terá um link para um filme ou site que o desenvolve um pouco mais.   

 

Self: Na psicologia Junguiana o self é entendido como unificação do consciente e do inconsciente constituindo, de certa forma, o todo da pessoa. O selfie, traduzido como o si mesmo, nasce conosco e constitui a essência daquilo que somos na integralidade (consciente e inconscientemente). 

 

O Ego: No entendimento de Jung o ego vai sendo formado à medida que crescemos e nos socializamos. Ele é uma parte de nós e logo uma parte do self; é aquela parte que nos projeta para o exterior. No início da vida nosso ego é aquilo que entendemos por eu, uma vez que ele ainda não está consciente do seu todo, ou seja, ainda não está consciente do seu self.  Dentro deste entendimento, o ego não é bom ou ruim, mas sim aquela parte de nós mesmos que projetamos para fora, sem qualquer juízo inicial de valor. Assim o ego é o grande mediador, a grande ligação entre nós e o mundo. É nossa projeção consciente neste mundo.  


 Uma pessoa sem um ego seria uma pessoa sem uma noção de individualidade desenvolvida, sem um veículo de relação com o mundo. Uma vez que aqui estamos avaliando a relação destes conceitos com a Maçonaria, cumpre destacar a imagem ao lado, que nos mostra o ego como ponto central e o selfie como todo o círculo (incluindo aquele ponto central), certamente isto forma um símbolo bastante conhecido dos maçons. 


 


A Persona
:
 Na visão junguiana, a persona é uma faceta, ou como nome infere, um personagem, apresentado pelo ego ao mundo externo, a fim de melhor se adaptar à uma situação ou demanda social. 

Para este fim, a persona busca apresentar as características mais aceitas esconder as rejeitadas por aquela situação; independentemente de serem ou não pertencentes ao egoEm palavras mais simples, podemos dizer que a persona são nossos papéis sociais, onde nos portamos segundo determinadas características conscientemente. Evidentemente, há casos em que o ego se confunde com a persona, o que gera problemas psicológicos que estão fora do escopo deste artigo. Para nosso estudo basta entendermos que a persona é um papel mormente consciente que desempenhamos na sociedade.  

 


A sombra
:
 A sombra é um dos conceitos da psicologia Junguiana mais discutidos e amplos.


Para fins de nosso estudo, devemos guardar que a sombra reúne todas aquelas características de nós mesmos que são de tal forma rejeitadas que nossa mente consciente, nosso ego, não as aceita e as empurra para o campo inconsciente do self. Cumpre marcar aqui que assombra reúne não aqueles defeitos que simplesmente não gostamos nos outros, mas sim aqueles defeitos que nós vemos em nós mesmos e não aceitamos sequer pensar que os temosPor isso são empurrados para o inconsciente. 


Encerrado nosso período de conceitos básicos, vamos relacionar tudo isso com o que nós temos e vivemos dentro da Maçonaria. 

De cara, vemos que ego na Maçonaria é usado no mesmo sentido que na palavra egoísta. Este não é o sentido usado por Jung. Para ele o ego é a nossa projeção consciente no mundo e logo não é necessariamente bom ou ruim. Desta forma, se falarmos de dominar ou mesmo destruir o ego, usado neste sentidoisto seria desastroso. Alguém sem um ego ou um ego fraco no sentido Junguianonos falaria de uma pessoa sem uma percepção do seu próprio eu, sem controle, sem mediação entre seu inconsciente e o mundo; logo falaríamos de uma pessoa doente.  

Se por este lado, a psicologia de Jung se afasta do uso na Maçonaria, por outro o próprio desenho que representa o ego e o selfie dizem muito em relação à nossa filosofia. Se no sentido usado por Jung o ego (o ponto no centro do círculo) é o foco de projeção do selfie (o círculo completo) no mundo, para nós o ponto central é o grande arquiteto que emana o mundo, que é o grande círculo. Vejam aqui se repetindo a sabedoria hermética (Assim é em cima como embaixo), Jung usou como modelo para sua visualização da psiquê humana o mesmo modelo de formação do próprio universo segundo várias correntes místicas; inclusive a nossa. 

Todavia, os paralelos não se encerram por aí. Para Jung, a comunicação entre o ego e o self se dá através de uma ponte, que ele chama de eixo ego-selfie. Como os conteúdos mais profundos do selfie não podem chegar ao consciente em sua maneira bruta, Jung nos diz que essa comunicação acontece somente a partir de símbolos. Todos nós já ouvimos falar que a Maçonaria é "Um sistema peculiar de moralidade baseado em alegorias e ilustrado por símbolos". Assim sendo, podemos perceber que a Maçonaria aplica a psicologia um Junguiana ao instrumentar seus iniciados com uma simbologiaque facilitará o acesso ao seu selfie e a sabedoria do inconsciente coletivo que lá se encontra. 


Buscando interpretar a máxima Maçônica de “dominar seu ego, numa visão Junguiana, poderíamos entendê-la como um esforço de não deixar o ego se confundir com a persona Todos nós temos uma persona maçônica, uma maneira de nos comportar que está de acordo com a forma esperada pela ordem. Todos nós queremos aparentar ser o grande mestre ou pelo menos o bom aluno.  

A questão é que a imperfeição é intrínseca do ser humano. Assim, acreditarmos que essa persona, esta máscara, é aquilo que de fato somos significa nos estagnar. Para seguirmos nos aperfeiçoando, precisamos enxergar o nosso ego como realmente somos, para poder seguir trabalhando e melhorando a nós mesmos de fato. Neste sentido todos os aventais e medalhas são um verdadeiro perigo, pois podem nos fazer acreditar que somos aquela persona, quando na verdade somos aquilo que está por trás É sobre este ego escondido atrás da persona que o malho e o cinzel devem trabalhar. 

 o conceito de sombra nos traz um item ainda mais importante. Uma vez que a sombra é inconsciente e plasma tudo aquilo que não aceitamos ser, é nela que estão as características que certamente mais mereceriam nosso trabalho.  A questão é exatamente que ela é inconsciente, negamos a nós mesmos a mera existência delas. Dessa forma, não há como trabalhar e evoluir sem, de algum modo, ter contato com nossa própria sombra. Este contato é por definição difícil e doloroso, mas certamente é o grande degrau para um efetivo crescimento pessoal.  

Concluindo, podemos ver que a Maçonaria usa o conceito de ego concebido por Freud, pois o encara como algo negativo, como fonte de nossas paixões e objetivo de nosso esforço em dominá-lo.  Todavia, uma vez que praticamente todo o restante de sua filosofia e ritualística são apresentados por símbolos, pode-se dizer que ela acaba tendo uma correlação muito maior com a psicologia Junguiana. Cada vez que nos valemos de um símbolo ou ritual com intuito de buscar crescimento individual ou passar determinada informação subjetiva, estamos recorrendo direta ou indiretamente a arquétipos que encontram eco na psicologia de Jung.  

Evidentemente a Maçonaria é muito mais antiga do que Jung, mas ela naturalmente já recorria a muitas ferramentas as quais nosso irmão Carl Gustaf Jung recorreu, ao buscar entender e sistematizar a psiquê humana. Portanto, julgamos que aqueles que optarem por se aprofundar na visão Junguiana terão grande proveito, tanto para seu próprio crescimento pessoal, quanto para o entendimento mais profundo de muitos dos ensinamentos maçônicos.  


Quiron

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