Retenção Maçônica
Um resumo à Brasileira
Como se observa
pela série de traduções, a questão não é apenas brasileira, mas certamente
temos nossas peculiaridades. Neste post pretendo resumir as ideias desta série,
organizando-as e dando uma perspectiva brasileira a elas. Falaremos de captação e depois de retenção de
membros; em ambos de maneira sucinta, uma vez que elas foram abordadas nos
outros artigos com mais vagar.
Captação
Relevância Social
No Brasil, desde a era Vargas, a Maçonaria adotou um perfil mais discreto; talvez até discreto demais. Não se trata de construirmos uma Ordem feita para as aparências, mas de termos uma participação social relevante não apenas de fato, mas relevante na percepção da sociedade. Não é à toa que um dos artigos de maior audiência nesse blog foi a tradução que tinha o título de “se sua loja fechasse amanhã”. O triste fato é que a sociedade pouco perceberia a falta da maioria de nossas lojas.
Outras lojas até
fazem relevante trabalho social, todavia esse trabalho é muitas vezes feito
apenas no campo financeiro. Talvez devamos intensificar o nosso trabalho também
no campo do contato, no campo da verdadeira dedicação de nosso tempo à sociedade ao nosso redor. Além de propiciar maior visibilidade, esse empenho
direto de nossos irmãos na benemerência daria aos necessitados o bem mais
precioso de todos, que seria nosso tempo e nosso cuidado sincero. Destes atos viria
o justo reconhecimento social a uma natural procura da iniciação por aqueles que se harmonizassem com estes
objetivos.
Eventos sociais abertos
É importante que as lojas tenham eventos nos quais recebam seus amigos, para que surja a natural confraternização entre eles; não o interesse apenas na iniciação, mas o mútuo conhecimento que permitirá uma escolha consciente tanto por parte do candidato quanto por parte da loja.
Boa sindicância
É fato que a Maçonaria
muitas vezes atrai homens que a buscam por razões não tão nobres. Também
acontece de pessoas, ainda que bem intencionadas, buscar a Maçonaria pelas
razões erradas ou devido a um engano de percepção. Este tipo de coisa pode, e
deve, ser sanada numa boa sindicância, que permita aos irmãos conhecer adequadamente
o candidato não apenas em buscas de falsos motivos, mas principalmente da
adequação entre o desejo do candidato e aquilo que a fraternidade de fato pode
lhe oferecer.
A sindicância não
pode ser feita de maneira acelerada somente para cumprir o protocolo. Ela deve
ser séria e ter alocado o tempo que for necessário. De nada nos adianta encher
as lojas de elementos inadequados. É necessário que o candidato não apenas tenha
os objetivos corretos, mas até mesmo que esteja no momento adequado de sua vida a
fim de que possa dar à Ordem a atenção necessária, bem como arcar com os custos que
ela necessariamente tem. Em resumo, temos que iniciar apenas a pessoa certa, na
hora certa. Do contrário, é um desserviço ao iniciado e à Ordem.
Sermos, de fato, exemplos
O maior cartão de
visitas da Maçonaria são os próprios maçons! Não há maneira de se despertar o
interesse de bons homens sem que tenhamos dentro da Ordem homens justos. Certamente
o ser humano é imperfeito por definição, mas o maçom deve se destacar no seu
grupo pela sua conduta. O respeito a este princípio tem 2 vertentes. Na
primeira, cabe à Ordem policiar seus membros, orientando, ajudando e, em último
caso, excluindo quando o comportamento não for adequado. Se a Maçonaria não for de fato um grupo de
honra, nenhum homem honrado desejará ser parte dela.
A segunda vertente é mais sutil. Devemos levar à sério, no dia-a-dia, o termo Irmão pelo qual tratamos uns aos outros. Em meio a esta grande pandemia, se por um lado vimos grandes mostras de solidariedade, em outros casos vimos afastamento dos irmãos e um quase desinteresse de uns pelos outros. O tratamento entre os maçons deve ser efetivamente aquele de irmãos; que se ajudam, se apoiam, se orientam e também se cobram, sempre alinhados com os ideais da instituição.
Retenção
Muito bem. Conseguimos
trazer para dentro da Ordem os bons homens e agora temos a obrigação de
fazê-los melhores. Mas como mantê-los dentro da Ordem?
Entregar o que promete
Este fundamento
parece óbvio, mas nem sempre o levamos totalmente a sério. Não podemos falar
uma coisa ao candidato e depois, na prática, não a executarmos em loja. Assim, devemos
ficar atentos para de fato cumprir aquilo que falamos ao candidato nas
conversas iniciais e, principalmente, na sindicância.
Atender às quatro vertentes
Outro ponto chave
da retenção Maçônica é atender aquilo que eu chamo de as 4 vertentes de uma
loja. Estas são 4 linhas de trabalho que precisam estar todas presentes em
uma loja que trabalha de maneira consistente e saudável. Vamos a elas:
1- Ritualística
Todavia, não basta que
o novo iniciado veja o ritual correto e o respeito aos nossos usos e costumes. É
necessário que ele entenda o porquê de cada um dos componentes deste ritual. Como
qualquer cerimônia, nossos rituais sem seus significados tornam-se apenas
coreografias vazias. É essencial que o novo iniciado seja instruído no profundo
e importante valor simbólico de cada uma das pequenas coisas que compõem o belo
antigo e tradicional ritual maçônico.
Para isso é
necessário que nossas lojas designem irmãos adequados ao exercício das funções. Que eles possam não apenas executar as cerimônias corretamente, mas orientar os iniciados
nas ações de cada uma das coisas.
2- Benemerência
Já falamos da benemerência ao trazermos a necessidade de que a loja desempenhe seu papel social para ser vista e, consequentemente, atrair os membros adequados. Repetimos esse tópico aqui apenas para lembrar que isso deve continuar sendo feito não apenas como uma forma de entregar aquilo que prometemos, mas principalmente como forma de instrução e evolução moral e espiritual de nossos membros.
3- Estudo
Este é um ponto que
atrai muitos dos novos membros Todavia, muitas vezes esse aspecto é abordado de
maneira superficial ou limitada em algumas oficinas. Também é preciso lembrar
que o estudo no simbolismo maçônico não acaba no grau de mestre; prossegue nos
graus filosóficos, com a apresentação de trabalhos e estudos mesmo em
loja simbólica.
É necessário que nossas lojas apresentem a seus membros um programa de estudos organizado e sério, que de fato agregue algo ao profano que adentrou à Ordem. Para isso, é importante que as lojas disponham de um material de apoio adequado, numa linguagem apropriada e com referências, para orientar o aprofundamento do estudo do iniciado.
Não queremos dizer
aqui que todo iniciado maçom deve ter um conhecimento profundo, quase um
mestrado acadêmico, como parte de sua ascensão normal dos graus. Contudo, é
importante que possamos dar suporte àqueles que gostam de estudar, viabilizando
que cada irmão progrida na vertente para a qual tem maior pendor. Noutros
tempos talvez uma loja pequena ou isolada tivesse dificuldade em ter acesso a
este tipo de material, mas em nossos tempos de internet está muito mais fácil reunir
informações de apoio para um estudante maçônico.
4- Verdadeira Irmandade
É importante que
sejamos irmãos de fato e em verdadeiro pé de igualdade dentro da loja. Cada
membro deve expressar a real preocupação com seus irmãos a fim de poder
conhecê-lo e prestar o verdadeiro apoio fraternal quando este se fizer
necessário. Aqui reitero, mais uma vez, ser muito mais importante o apoio pessoal
do que o material.
Não existe grupo de
seres humanos que não venha a ter eventualmente divergências e desentendimentos.
Neste momento é importante a reunião do todo da loja, para que os
irmãos litigantes possam colocar suas posições, entenderem um ao outro e se pacificarem de fato. Nosso mote de “passar a trolha” é absolutamente essencial para a
saúde de uma loja.
Acompanhar as mudanças
Obviamente a
ritualística presencial sempre terá seu espaço e sua importância. Até mesmo
porque este membro mais jovem deve aprender a desacelerar em certos momentos para
poder apreciar a vida e sedimentar a sua própria consciência. Como dissemos, não se trata de abrir mão dos valores, mas de adaptá-los para serem transmitidos
às novas gerações da melhor maneira.
Mas e a administração e politica maçônica?
Conclusão
Como conclusão
final deixo as 4 ideias que julgo terem saltado aos olhos em todo esse processo. São elas:
- Sejamos fiéis aos nossos ideais
- Desempenhemos com vigor nosso papel social
- Fortaleçamos a vertente de estudo e ritualística de nossas lojas
- Estejamos atentos para evoluir sem perder os ideais
Que o Grande Arquiteto
do Universo permita que este trabalho possa reforçar as colunas de alguma loja nesse
nosso imenso Brasil.
Autor: Paulo Maurício M. Magalhães